UM ENSAIO FILOSÓFICO
A antiga Grécia criou mitos e lendas
num mundo imaginário de pensamentos ocultos. A História conta à versão da
origem, mas não reflete a razão por si mesma. A mitologia grega fez uma
encenação categórica de mistérios, entrelaçada de conflitos e tragédias que
culminou com a dramatização dos deuses no Olimpo. Talvez por uma questão de
princípio humano, mostrando a face obscura do homem no teatro da imaginação.
Mas a Grécia também foi abençoada e se apresentou para o mundo como o berço da
sabedoria, a mais notável e mais brilhante civilização dos tempos antigos. O
mundo dos deuses já não era mais o mesmo. A partir de então, o homem dotado de
sentimentos e sonhos é o centro das atenções. A verdade e nada mais que a
verdade, tudo bastaria, desde que, o conhecimento fosse realmente a fonte de
toda a inspiração humanística, e produto vital da palavra passou a ser a razão.
A filosofia é a grande mestra, o fator humano estar compreendido pela paixão,
enriquecida pela sabedoria dos grandes pensadores que deu voz à verdade e com
ela emudeceu o culto dos deuses. Sócrates, o mais célebre dos gregos,
eternizou-se como um dos homens mais sábios de todos os tempos. “Sei que nada
sei”. Platão seu discípulo mais próximo, dissertou para o mundo aquilo que seu
mestre preferiu produzir em silêncio. Aristóteles reproduziu a lógica de uma
maneira mais materializada aos olhos do mundo real. E a ciência entendeu, que a
natureza antes de se definir como matéria é essência e dela a vida se assume
por inteira; a existência é a razão que identifica um poder único de todo um
ser soberano. Sócrates tomou a cicuta e padeceu para o mundo, mas sua morte
fortaleceu a palavra e pôs em destaque a dignidade de um homem. A ética é mais
importante que a moral, simplesmente por que a moral sem a ética não teria
sentido. O homem é forte quando supera as tentações e não quando estabelece
metas para si mesmo. De tal forma, Sócrates revolucionou a filosofia com poucas
palavras e muito silêncio, tornando-se referência para todas as épocas. No
terceiro século antes de cristo, o próprio Sócrates já pregava o cristianismo e
a vontade do verdadeiro Deus já pairava sobre a Grécia, porque alguém por ali
falava por ele.
Os ventos sopraram os rumores das épocas. A
Idade Média continuou sem destino de princípios morais e a Idade Moderna chegou
com iluminismos e grandeza de arte. Um sentimento de perca por falta de
civilização consciente e uma alma frustrada por não entender que a vida não
precisaria tanto para conhecer o mérito da felicidade. Grandes homens viveram e
morreram, mas alguns poucos aproveitaram o silêncio das épocas. Baruch de
Espinosa viveu isolado como um judeu em busca de uma paz tão espirituosa e
humanamente compreendida pela fé. Francis Bacon se despertou com um projeto
científico para uma sociedade ainda em conflito de idéias, e o seu conhecimento
político não adquiriu popularidade européia, mas privilegiou a conduta dos que
acreditavam no avanço social. E no fim do século XIX tudo poderia terminar sem
uma colocação importante sobre o humanismo e a civilização. Frederico
Nietzsche, um tanto pessimista, mas realístico com a situação para qual o homem
busca o riso e o conforto da alma; além do mais, Nietzsche é muito produtivo e
se conforma com a mortalidade humana. Tornou-se uma das figuras mais precisas
entre os pensamentos da escola filosófica de todos os tempos. Nietzsche
compreendeu que o mal obscurece o sentido da verdade, e pelo mal o bem se
ilumina e atinge o seu próprio brilho.
O que se pode compreender é que os filósofos
foram frutos e luzes para um mundo diversificado de gostos e ofuscado por muita
maldade. “A razão do ser” até hoje se questiona, e até parece que nada mudou. O
homem continua obstinado pelo mistério porque tem dificuldade de conhecer a
razão; talvez porque ele nunca se lembra de procurar a razão dentro de si
mesmo.
Fonte: Ensaio de Nanal Vilas Boas.