segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

                                       Nanal Vilas Boas

     Reinaldo Oliveira Vilas Boas. Escritor e poeta. Escreveu inúmeras obras de natureza filosófica e literária. Na área filosófica escreveu cinco obras em manuscritos, buscando refletir o ser humano no seu processo de vida em meio aos contrastes de civilização; suas dores e paixões, sua fraqueza e seu espírito. Partindo da razão, a sua visão filosófica encontra sentimento e prazer no humanismo provido de alma, e quebra as regras do jogo manipulado pela hipocrisia do padrão social de classes separatistas do senso comum. Sua crítica faz pensar no obscuro do imaginário e antecipa com lucidez a derrota dos arrogados. Escreveu várias crônicas, ensaios, comentários políticos e sociais. Na área literária, põe o mistério como uma das fontes de sua inspiração em meio à natureza e a sua arte de se promover a contemplação. Escreveu muitos poemas. Entre tantos poemas publicou o livro “Sentimentos de um Poeta”, parte de alguns poemas que diversifica o gênero na sua escrita.  É o autor da letra do Hino de Capim Grosso e atualmente trabalha no término de um livro de contos.

UM ENSAIO FILOSÓFICO

          A antiga Grécia criou mitos e lendas num mundo imaginário de pensamentos ocultos. A História conta à versão da origem, mas não reflete a razão por si mesma. A mitologia grega fez uma encenação categórica de mistérios, entrelaçada de conflitos e tragédias que culminou com a dramatização dos deuses no Olimpo. Talvez por uma questão de princípio humano, mostrando a face obscura do homem no teatro da imaginação. Mas a Grécia também foi abençoada e se apresentou para o mundo como o berço da sabedoria, a mais notável e mais brilhante civilização dos tempos antigos. O mundo dos deuses já não era mais o mesmo. A partir de então, o homem dotado de sentimentos e sonhos é o centro das atenções. A verdade e nada mais que a verdade, tudo bastaria, desde que, o conhecimento fosse realmente a fonte de toda a inspiração humanística, e produto vital da palavra passou a ser a razão. A filosofia é a grande mestra, o fator humano estar compreendido pela paixão, enriquecida pela sabedoria dos grandes pensadores que deu voz à verdade e com ela emudeceu o culto dos deuses. Sócrates, o mais célebre dos gregos, eternizou-se como um dos homens mais sábios de todos os tempos. “Sei que nada sei”. Platão seu discípulo mais próximo, dissertou para o mundo aquilo que seu mestre preferiu produzir em silêncio. Aristóteles reproduziu a lógica de uma maneira mais materializada aos olhos do mundo real. E a ciência entendeu, que a natureza antes de se definir como matéria é essência e dela a vida se assume por inteira; a existência é a razão que identifica um poder único de todo um ser soberano. Sócrates tomou a cicuta e padeceu para o mundo, mas sua morte fortaleceu a palavra e pôs em destaque a dignidade de um homem. A ética é mais importante que a moral, simplesmente por que a moral sem a ética não teria sentido. O homem é forte quando supera as tentações e não quando estabelece metas para si mesmo. De tal forma, Sócrates revolucionou a filosofia com poucas palavras e muito silêncio, tornando-se referência para todas as épocas. No terceiro século antes de cristo, o próprio Sócrates já pregava o cristianismo e a vontade do verdadeiro Deus já pairava sobre a Grécia, porque alguém por ali falava por ele.
          Os ventos sopraram os rumores das épocas. A Idade Média continuou sem destino de princípios morais e a Idade Moderna chegou com iluminismos e grandeza de arte. Um sentimento de perca por falta de civilização consciente e uma alma frustrada por não entender que a vida não precisaria tanto para conhecer o mérito da felicidade. Grandes homens viveram e morreram, mas alguns poucos aproveitaram o silêncio das épocas. Baruch de Espinosa viveu isolado como um judeu em busca de uma paz tão espirituosa e humanamente compreendida pela fé. Francis Bacon se despertou com um projeto científico para uma sociedade ainda em conflito de idéias, e o seu conhecimento político não adquiriu popularidade européia, mas privilegiou a conduta dos que acreditavam no avanço social. E no fim do século XIX tudo poderia terminar sem uma colocação importante sobre o humanismo e a civilização. Frederico Nietzsche, um tanto pessimista, mas realístico com a situação para qual o homem busca o riso e o conforto da alma; além do mais, Nietzsche é muito produtivo e se conforma com a mortalidade humana. Tornou-se uma das figuras mais precisas entre os pensamentos da escola filosófica de todos os tempos. Nietzsche compreendeu que o mal obscurece o sentido da verdade, e pelo mal o bem se ilumina e atinge o seu próprio brilho.
          O que se pode compreender é que os filósofos foram frutos e luzes para um mundo diversificado de gostos e ofuscado por muita maldade. “A razão do ser” até hoje se questiona, e até parece que nada mudou. O homem continua obstinado pelo mistério porque tem dificuldade de conhecer a razão; talvez porque ele nunca se lembra de procurar a razão dentro de si mesmo.  

                                                                         Fonte: Ensaio de Nanal Vilas Boas.