sábado, 17 de outubro de 2015


                                                                            

                                                                              


                                                                                                                         
A ESCRAVIDÃO ANIMAL

          Durante toda existência humana o mundo viveu com prepotência dos fortes sob o domínio dos fracos. Essa arrogância que eleva o homem no degrau do poder para explorar seu semelhante, envergonha toda a raça humana e diminui sua imagem perante Deus. A história da escravidão do homem sobre o homem mostrou quem de fato é o monstro terrestre ao longo de tantos milênios. Mas aos poucos, nas últimas décadas, esse tipo de escravidão foi diminuindo por algumas partes do mundo e o homem escravo foi adquirindo conhecimento, rebelando-se e proferindo sua voz pelos direitos adquiridos, ainda que esse mal continue entre eles. Mas como para o homem o mal é mais fascinante que o bem, então a escravidão deve continuar... Encontrando nos animais vítimas inocentes para manter a sua tirania em evidência. Pois estes não têm a racionalidade do mal, não têm armas para lutar contra o homem, não se organizam para fazer rebeliões, não escolhe representantes políticos, não têm voz para se defender... São pobres indefesos, subestimados pelos demônios de duas pernas e um par de olhos contaminados pelo poder. E por todo o planeta a posse dos homens sobre os animais são intencionalmente criminosas. Desde o desmatamento incontrolável, o contrabando, a caça desnecessária, a criação irresponsável,  o uso científico de cobaia, o ritual macabro, o esporte cruel (tourada, rodeio, briga de galo etc.), o olhar desumano... Mais triste ainda que um passarinho engaiolado é o desprezo do homem pelo seu animal. Animal que busca sempre o seu dono como referência e respeito; enquanto muitas vezes não há reciprocidade. Animais silvestres e domésticos são brutalmente maltratados, injustiçados, escravizados; como se fossem culpados pela desgraça do mundo causada pelo próprio homem.  O cão, o maior amigo do homem, milhares deles vivem abandonados, perseguidos pela injustiça social; os gatos são carismáticos no seio de suas casas, mas quando não têm casa, não encontra carinho social; o burro continua sendo burro de carroça sob o chicote do dono; e o jumento com tanta história no lombo não é reconhecido como merecia, “chicote nele!”. Esse cabra macho! Que desde os tempos bíblicos aos dias de hoje, tem mostrado seu valor; mas o homem não ver quanto heroísmo neste ser e o escraviza torturantemente. Símbolo do nordeste, irmão dos nordestinos sim! Com orgulho! Pois foi o jumento que tanto trabalhou, todos os dias, sem descanso, de sol a sol, para o sustento de tanta gente, inclusive para o sustento de uma economia regional. Mas cruelmente é desprezado, e quando velho é empurrado para o corredor da morte. Assim como o boi de carro, que durante muito tempo, suportando o peso da carroça e as pontadas de varas na carne batida do sol ardente sob o cansaço na viagem longa, levou sua missão sofrida aos rincões distantes, para alimentar até mesmo quem não merecia. Coitados! Muitos deles acabaram devorados como churrascos em farras profanas... Quanta ingratidão humana!
          Em pleno século XXI a escravidão ainda não acabou... Os animais são as vítimas fáceis da perversidade humana. Nas ruas, nos campos, nas casas, nas arenas... Não há justiça para combater tamanha injustiça. O mundo se cala aos fatos. As religiões que falam tanto de Deus, pouco falam da causa, não defendem os humilhados e não reprime os pecadores nem o pecado. Hipócritas! A polícia faz pouco de quem reclama. O Estado faz de conta que não tem importância e fecha os olhos para a verdade; pois os vereadores e deputados não se incomodam com a escravidão dos bichos, afinal eles não votam. O governo (municipal, estadual e federal) também não se esforça por uma política pública em prol da causa e diz não sobrar verba para essa coisa, mas surgem verbas para as supérfluas popularidades. Enquanto os artigos constitucionais que protegem esses inocentes são ignorados por eles. Pois os poucos abolicionistas ficam sem apoio da lei e ainda são ameaçados... E a Justiça, covardemente cobre os próprios olhos, porque se diz que simbolicamente a justiça é cega; então não age, e quando às vezes age, age friamente como se os escravocratas fossem ingênuos. Quanta hipocrisia nesta sociedade! E a cidade perversa desgraça sua própria alma. Porque de fato a Justiça é cega, mas a injustiça todo o mundo ver.

                                                                        Crônica de Nanal Vilas Boas